O Assassino | Crítica

O Assassino | Crítica

Em “O Assassino” David Fincher esconde uma comédia brilhante em seu novo thriller.

Aristóteles, na “Poética”, menciona que a tragédia é a imitação de uma ação elevada e completa, dotada de extensão, numa linguagem embelezada por formas diferentes em cada uma de suas partes. Mas o que acontece quando esse embelezamento é usado como artimanha para enganar o público? É isso que “O Assassino” de David Fincher consegue fazer com maestria.

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O filme apresenta um rigor e uma classe na encenação que constantemente evocam o racionalismo do protagonista, um homem metódico e calculista que se guia por relógios e resolve o mundo a partir da matemática. São números que orientam sua jornada, pois são exatos, concretos e irredutíveis. Não à toa, o filme é dividido em capítulos cronológicos. O personagem interpretado por Fassbender enxerga o mundo através de uma régua exata, e a fotografia e a decupagem acompanham essa exatidão. A narração é um elemento-chave para decodificar como a linguagem escolhida está conectada ao pensamento do assassino.

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Não cometer erros

A “pegadinha” em toda a beleza e forma simétrica está na apresentação da música como elemento crucial. A narração preconiza um distanciamento emocional, mas o que acalma o personagem são as letras da banda The Smiths falando sobre amor e humanismo. Mesmo cometendo um erro por um motivo insignificante, o personagem se organiza a partir de um mundo que não é real, mas uma fantasia que ele cria para si.

Dentro de todo esse rigor, fica claro como David Fincher usa “O Assassino” para criar um humor ácido, surgindo das contradições entre a visão do mundo do personagem principal e como o mundo realmente é. O personagem é constantemente traído por suas próprias convicções, transformando a tragédia em farsa quando somada à peripécia.

O Assassino está disponível na Netflix