Guerra Civil  – Crítica

Guerra Civil  – Crítica

A24 atira diretamente no ninho de vespas dos Estados Unidos e pretende atingir a produção de maior bilheteria de sua história com Guerra Civil.

Após “Devs” e “Men”, Alex Garland confirma que parece ter vislumbrado o presente com “Guerra Civil”, a nova grande produção da A24, que conta com um elenco espetacular, incluindo Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Jesse Plemons e Nick Offerman como presidente dos Estados Unidos em uma deslumbrante ucronia de guerra.

Confira também: Anatomia De Uma Queda – Crítica

Depois de anunciar que quer se aposentar da direção, Alex Garland oferece seu trabalho mais impressionante, retratando um presente distorcido, mas não muito distante, com uma lucidez que já está criando fissuras na comunidade cinematográfica americana. Assumindo a dinâmica de um road movie de guerra, preenche seu último trabalho com imagens indeléveis, com um tom que oscila entre a ficção científica e um imaginário mais niilista.

Visionário mesmo chegando atrasado

Um exame poderoso de uma nação em declínio com os acordes clássicos de uma viagem às trevas do “Apocalypse Now”, aqui através dos olhos do jornalismo, evocando uma ficção cheia de ideias subversivas que vão desde a necessidade de liberdade de informação, seja qual for, à filosofia da dessensibilização à violência, da vigilância das redes e da desumanização do Ocidente. 

Garland segue os passos da ficção especulativa de uma nova Guerra Civil após a sátira de Joe Dante “A Segunda Guerra Civil” (1997), que embora fosse uma caricatura era bastante contundente, tinha sua leitura pessimista da insensibilidade americana, então aqui a tremenda é equilibrado com uma certa comédia negra sutil, colocando ninguém menos que Ron Swanson como presidente, embora aqui os sinais sejam confusos, e a rebelião proposta não seja a mesma de 1861, tornando os motivos mais enigmáticos, apesar de deixar claras as tendências no personagens que encontram ao longo do caminho.

Em suma, o roteiro propõe um clássico jogo de troca dinâmica entre dois personagens, aqui Cailee Spaeny sendo absorvida pelo poder do objetivo. O grupo parece ser um reflexo daquele que encontramos em “Extermínio”, com o qual não só compartilha o mesmo tom quase apocalíptico, mas também certas decisões de enredo, e até sensibilidade opressiva, é como se fosse um intermediário capítulo sem zumbis.

Humanidade sem solução

Contudo, a força e a realidade das imagens da “Guerra Civil” são tais que na sua imaginação dos EUA militarizados recria o que se passa no Texas quase em tempo real, com uma representação aterradora da atividade das tropas na fronteira que se torna cada vez mais opressiva. Porque no fundo, há um filme de terror em cada cena de cerco, onde além de violência gritante e imagens macabras.

As performances são fundamentais para tornar os personagens reais. Kirsten Dunst é especialmente boa como uma mulher que se enterrou tão profundamente em um casulo sem emoção que, quando há rachaduras, elas exigem Dunst como atriz. Stephen McKinley Henderson é a voz da razão que percebe que este pode ser seu último rodeio, mas está determinado a ir até o fim. Wagner Moura, no papel do astuto Joel, trabalha todos os movimentos de Hunter S Thompson: bebidas, drogas, carros velozes e brincadeiras infantis. Parecendo ainda mais jovem do que realmente, torna-se a base do carisma do filme. Cailee Spaeny, enfrenta o arco mais difícil enquanto os horrores ao seu redor destroem os vestígios restantes de sua ingenuidade e a forçam a entender o que ela deve sacrificar para se tornar quem ela quer ser.

Ouça o Podcast: Especial CCXP 2023 | 10 ANOS

Após a recepção, o uso abjeto da neutralidade na “Guerra Civil” levantará sobrancelhas de todos os tipos. A principal delas é pensar que se trata de lados e de uma guerra na qual você tem que se posicionar, e não da necessidade de poder denunciar em qualquer circunstância o que você tem debaixo do nariz sem medo de ser apontado ou de buscando justificativas além do trabalho.

Guerra Civil” está disponível nos cinemas brasileiros.