Em Segredos de um escândalo Tod Haynes faz um estudo complexo sobre um mundo de falsidades.
Todd Haynes encara através da falsidade, especialmente marcada na trilha, a vida de personagens que vivem de fingir e de simular sentimentos.
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É uma ideia genial o desenvolvimento do filme ocorrer por meio do contato de uma atriz (Nathalie Portman), já que a personagem, que a vida de “fingir” se encaixa bem no tom falso que todas as interações possuem.
Tudo é intencionalmente calculado no mundinho de Grace (Julian Moore). As agressões são verbalizadas de maneira discreta, e o controle é exercido sorrateiramente, como na cena em que ela calmamente vai mudando o vaso de flores da personagem interpretada por Portman, ou desencoraja a filha a comprar um vestido, elogiando-a por ser “corajosa em vestir uma peça que expõe um corpo não-padrão”.
Em detalhes implícitos, Elizabeth (Portman) mergulha e se insere por meio de pequenas mentiras e disfarces do julgamento moral com a situação para passar por sua metamorfose e, aos poucos, tornar-se a mulher que pretende interpretar.
A direção de Haynes destaca detalhes físicos, como posição das mãos e espelhos, ressaltando sempre a metamorfose que surge do espelhamento gradual que a protagonista faz com Grace, até que se torna o retrato perfeito dela. Não à toa, outra constante no filme são enquadramentos marcados por linhas nos objetos, criando uma “moldura” para tudo. O retrato é tão poderoso para as duas que se torna inevitável o flerte com Joe (Charles Melton).
Este, eternamente fragilizado pela vida que não teve, é agora um homem-objeto que mal tem controle de suas decisões ou vontades. Ele olha para as novas possibilidades digitais (redes sociais e TV) apenas para realizar o que não pode ter, preso a um relacionamento que nunca pode consentir e agora vive de preso num eterno ensaio, criando lagartas em ambientes controlando e buscando nelas uma liberdade que espera ter.
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A metamorfose se conclui quando tudo se esvazia. quando de tanto fingir aquilo se torna real pra Elizabeth. Vemos a borboleta partindo, deixando para trás a casca vazia que permanece lá, imóvel e inalterada, uma falsa lagarta, apenas um ensaio do que já foi.
“Segredos de um Escândalo” está disponível nos cinemas brasileiros.