A Queda da Casa de Usher – Crítica

A Queda da Casa de Usher – Crítica

A Queda da Casa de Usher, é outro ótimo trabalho de Mike Flanagan que segue quase o caminho oposto dos outros trabalhos dele na TV.

Enquanto as outras séries do diretor se beneficiam de uma construção lenta e melodramática dos relacionamentos, sejam eles interpessoais (como em Midnight Mass) ou familiares (como em Residência Hill), nessa série o apelo é quase o oposto, e a catarse vem do prazer de ver tudo desmoronar.

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A dinâmica lembra muito um slasher, com vários momentos de morte que se assemelham à franquia “Premonição”, onde o apelo é mais direto, e a graça não está na construção de empatia com os personagens, mas sim na elaboração visual complexa de cada morte.

Tanto que os episódios giram em torno da organização da morte como um “evento-chave” em cada um, encerrando com um cartão anunciando o título da série, cimentando assim a noção de que ao fim de cada episódio estamos vendo a casa ruir tijolo por tijolo.

O legado de Mike Flanagan na Netflix

E se o criador conquistou o público fazendo um terror quase familiar na Netflix, onde os fantasmas surgem a partir da criação ou resolução de traumas, em “A Queda Da Casa De Usher” (que talvez seja seu trabalho mais maduro), ele finaliza seu contrato com o streaming elevando o tratamento da família disfuncional, não a partir de crianças emocionalmente quebradas, mas de adultos que, através do poder familiar, estão constantemente quebrando o mundo e as pessoas ao seu redor, além de conciliar isso com pitadas de erotismo, algo ausente até então em sua filmografia.

As performances do elenco potencializam ao máximo a escrotidão dos personagens, sem deixar que a superficialidade (intencional, vale ressaltar) deles se torne um problema, com destaques para Kate Siegel e Samantha Sloyan, que tomam um cuidado maior para carregar de frustração e prazer sádico nas cenas em que exercem dominação sobre os parceiros. Além disso, é claro, a jovem Kyleigh Curran oferece um contraste dócil e pacífico em relação a todo o restante.

No final, “A Queda Da Casa De Usher” é um belo mergulho em um pesadelo em oito partes que culmina toda a sofisticação de elementos prévios trabalhados por Mike Flanagan, desde a fotografia que evidencia a relação dos personagens com os espaços, a integração da contação de histórias na narrativa e o estudo dos personagens a partir de uma infância conturbada.

A Queda da da Casa de Usher está disponível na Netflix.