Tinha tudo para ser um dos melhores filmes da plataforma em 2023, porém a Máfia da Dor acabou ficando um pouco na terra de ninguém.
Ao longo de 2023 pudemos ver alguns filmes muito bons da Netflix, mas a plataforma também lançou uma infinidade de longas-metragens que, na melhor das hipóteses, não eram uma perda de tempo e, na pior, ficaríamos mais felizes fingindo que eles não existiam. Depois há uma pequena série de títulos com determinados valores mas que não conseguiram oferecer a sua melhor versão e é aí que se enquadra Máfia da Dór.
Dirigido por David Yates, com o grande gancho de protagonistas como Emily Blunt e Chris Evans. No entanto, isso não é necessariamente uma garantia de nada de bom, (recentemente os vimos em Ghosted: Sem Resposta, um filme decepcionante da Apple TV+ em que mais uma vez coincidiu com Ana de Armas, embora aqui o trabalho dela seja a única coisa realmente boa).
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Baseado no livro de Evan Hughes sobre uma investigação real sobre o negócio de opioides nos Estados Unidos. Sim, um pouco do mesmo tema que já serviu de base às minisséries “Dopesick” e “Império da Dor”, com a particularidade de ter uma abordagem mais concreta e direta por ter menos horas de resolver isso.
Aqui o principal foco é nos problemas de uma mãe solteira à beira da falência que consegue um emprego para o qual não está nada qualificada, o que não a impede de demonstrar um talento inato para isso. O problema é que a linha entre ajudar as pessoas e ganhar dinheiro simplesmente concentrando-se na lucratividade pode ser muito tênue.
Boas intenções, resultados discretos
Desde o primeiro momento é óbvio querer realçar o dilema que sua protagonista vive, recorrendo também a um curioso recurso que mostra alguns dos personagens comentando certos detalhes do que fizeram. Seu uso inicial leva a pensar que o negócio da dor, busca por ser uma obra com estilo, mas na hora do aperto acaba sendo utilizado de forma um tanto dispersa e sua função central é mais dar um final com golpe dramático do que qualquer outra coisa.
Máfia da Dor, acaba sendo um filme para Emily Blunt brilhar. Com isso não quero dizer que se trate da personagem dela e de todos ao seu redor, pois há uma série de decisões que deixam bem claro que o filme está apostando tudo na protagonista. Temos um bom exemplo disso com a doença da filha, retratada de tal forma que parece mais destinada a constituir um obstáculo na sua carreira. O enredo desenvolve-se de uma forma bastante decepcionante, o que diminui a força da mudança de atitude que a sua personagem sofre bastante tarde no filme.
E o que começa como um filme novo e com certo dinamismo torna-se gradualmente uma tentativa discreta de espremer o lado mais emocional de tudo o que está relacionado com a crise dos opióides. Nesse ponto, destaca-se o personagem interpretado por Willie Raysor, que poderia ter acrescentado aquela dose extra de profundidade dramática e acaba sendo pouco mais que uma anedota para adicionar mais sobrecarga moral à reta final do filme.
Em suma, a Máfia da Dor não é de forma alguma um péssimo filme, mas é uma desilusão, pois acaba por ser uma proposta bastante morna na sua crítica à ganância do sector farmacêutico e muito mais formalmente convencional do que é.
A Máfia da Dor está disponível na Netflix.